Cada um de nós passa por diversos momentos de ruptura ao
longo da vida... O primeiro deles é nascer... ou até antes, sair em disparada,
contra milhões de concorrentes rumo a um lugar que nem sabíamos qual seria.
Rompemos o óvulo, rompemos a placenta, rompemos a mamadeira, rompemos as
fraldas. Alguns param por aí, e, a partir daí, vão caminhando tão vagarosamente
que chegam aos 40 anos como se tivessem 15 – ao menos na cabeça.
Os outros 90 e tantos por cento continuam rompendo. Rompem
de tudo. Na infância, rompemos as crenças, rompemos a espera do Papai Noel, do
Coelhinho da Páscoa, da Fada do Dente, dos desenhos animados, dos heróis...
Essa ruptura, pra mim, é a mais difícil... Entender que não existem heróis, que
somos todos incapazes de salvarmos o mundo, que a vida de todos não depende da
nossa.
Aprendemos, então, o tamanho da nossa insignificância. Da
nossa irrelevância para o que acontece. II Guerra Mundial, você nem existia. Atentados de 11 de setembro, você não tem nada com isso. Naufrágio do Titanic,
então, mal se lembra do Leonardo di Caprio morrendo no filme. Nada depende ou
dependeu de nós.
Mais uma ruptura, a ruptura de nós mesmos. Nós nos apegamos,
sofremos, queremos, choramos. Acreditamos que nossas uniões são pra sempre, são
inquebráveis.
Mas o passar do tempo nos mostra o contrário, nos mostra que
essa ruptura é o que nos liberta. Se rompemos é porque nos prende, se rompe é
porque estava no limite, se romperá é porque alcançará seu ápice.
O elástico só se rompe em duas situações, ou por fadiga ou
por excesso. Nunca rompe na normalidade. Um relacionamento só se rompe em duas
situações, ou por fadiga ou por excesso. E pode ser excesso de amor. Pode ser
excesso de ciúmes. Pode ser excesso de sexo. Tudo em excesso rompe.
Bem-aventurados os que rompem e conseguem prosseguir de
cabeça erguida. Que sobre a garoa gelada da tristeza, erguem a cabeça, sabendo
que a ruptura, além da frustração de um fim, traz uma nova liberdade. Levante a
cabeça, busque encarar a ruptura como uma nova liberdade sempre.