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domingo, 2 de agosto de 2009

Domingo no Parque

Gilberto Gil



O rei da brincadeira. Ê, José!
O rei da confusão. Ê, João!
Um trabalhava na feira. Ê, José!
Outro na construção. Ê, João!...

A semana passada
No fim da semana
João resolveu não brigar
No domingo de tarde
Saiu apressado
E não foi prá Ribeira jogar
Capoeira!
Não foi prá lá
Pra Ribeira, foi namorar...

O José como sempre
No fim da semana
Guardou a barraca e sumiu
Foi fazer no domingo
Um passeio no parque
Lá perto da Boca do Rio...

Foi no parque
Que ele avistou
Juliana
Foi que ele viu
Foi que ele viu Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João...

O espinho da rosa feriu Zé
(Feriu Zé!) (Feriu Zé!)
E o sorvete gelou seu coração
O sorvete e a rosa, ô, José!
A rosa e o sorvete, ô, José!
Foi dançando no peito, ô, José!
Do José brincalhão, ô, José!...

O sorvete e a rosa, ô, José!
A rosa e o sorvete, ô, José!
Oi girando na mente, ô, José!
Do José brincalhão, ô, José!...

Juliana girando, oi girando!
Oi, na roda gigante, oi, girando!
Oi, na roda gigante, oi, girando!
O amigo João (João)...

O sorvete é morango. É vermelho!
Oi, girando e a rosa. É vermelha!
Oi girando, girando. É vermelha!
Oi, girando, girando...

Olha a faca! (Olha a faca!)
Olha o sangue na mão. Ê, José!
Juliana no chão. Ê, José!
Outro corpo caído. Ê, José!
Seu amigo João. Ê, José!...

Amanhã não tem feira. Ê, José!
Não tem mais construção. Ê, João!
Não tem mais brincadeira. Ê, José!
Não tem mais confusão. Ê, João!...

Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!

Essa música é uma narrativa fantástica e toda vez que ouço imagino perfeitamente a história contada por Gil, e o melhor, com uma riqueza de detalhes impressionante. Não vou tentar aqui fazer uma análise do discurso criado por Gil, mas apenas elencar alguns pontos principais desta história com tantos altos e baixos. Este, aliás, já é o primeiro.
Gil usa a roda-gigante do parque para mostrar exatamente essa variação, esse giro continuo com altos e baixos constantes. No início o autor define José como brincalhão e João como o briguento, mais tarde, no entanto, explica que João resolveu não brigar. José, por sua vez, foi ao parque e ficou nervoso com a cena que presenciou. Foi ele, então, que arranjou confusão, invertendo, aí, as características citadas nas primeiras estrofes.
Outra descrição perfeita acontece quando José chega no parque e avista Juliana com João. Juliana está com uma rosa e um sorvete na mão. Gil cria uma metáfora e diz que o espinho da rosa feriu Zé e que o sorvete gelou seu coração, justificando, então, a atitude violenta de José. Aliado a essa narrativa rica em detalhes, a melodia, muito ligada a sons de capoeira, já que João é capoeirista, e com melodia e arranjo cíclicos transforma a atmosfera num ambiente tenso e confuso, assim como José se sentiu diante da frustração de ver seu sonho se tornar uma ilusão.
Vários elementos distantes fisicamente entre si citados em sequência nos leva àquela sensação que temos quando ficamos nervosos, sem conseguir focalizar um único objeto e olhando para vários locais seguidamente.
Ao ouvir a música sentimos que o ato de José acontece quase que instintivamente, levado apenas pela emoção, tanto que, em poucas estrofes, com frases curtas José avista, se aproxima e esfaqueia o casal.
Não é a toa que esta música fez tanto sucesso no festival de música da Record. Parabéns Gilberto Gil, pela brilhante composição.


Você tem mais detalhes que acha importante nesta música, comente e seu comentário será postado aqui como um PS, com o devido crédito!

2 comentários:

  1. Sentindo falta da aula do Fernando Leme?
    Também gosto muito da música mas nunca tinha parado para analisar. Valeu!

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  2. Esse blogueiro é gente da melhor qualidade, jornalista promissor, e vou pintar por aqui com frequência! Beeeijo!

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