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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Eclipse Total do Coração...

Li, em um dia, o livro O Lado Bom da Vida e me encantei. Presente da minha linda amiga Karina Rocha. Livro devorado e várias passagens presas na minha cabeça. Assisti ao filme e me decepcionei. Uma das cenas mais lindas de todo o livro é a descrição da dança que Pat e Tiffany fazem com a música Total Eclipse of the Heart, e que no filme é totalmente modificada pra uma versão "comédia romântica" sem nada a ver com a obra original. Segue abaixo o trecho (vale a pena ler ouvindo o vídeo no final do post):


A mulher encarregada de apresentar o concurso anuncia nossos nomes, e os aplausos são um pouco mais animados do que os que recebemos antes da competição. Logo antes de me deitar no
fundo do palco, olho para o público para ver se Jake ou Cliff chegaram, mas tudo que vejo é o branco quente dos refletores voltados para mim. Antes que tenha tempo de pensar, a música começa.
Notas de piano — lentas e tristes.
Começo meu rastejar incrivelmente lento até o centro do palco, usando apenas os braços.
A voz masculina canta: “Turn around...”
Bonnie Tyler responde: “Every now and then I get a little bit lonely and you’re never coming round.”
Nesse ponto Tiffany entra correndo no palco e pula por cima de mim como uma gazela ou algum outro animal lindamente ágil. Enquanto as duas vozes continuam a cantar seus versos, Tiffany faz sua coreografia: ela corre, pula, cai, rodopia, desliza — é dança moderna.
Quando entra a bateria, levanto-me e faço um grande círculo com os braços para que as pessoas saibam que eu sou o sol, e que nasci. Os movimentos de Tiffany também se tornam mais intensos. Quando Bonnie Tyler começa o refrão, cantando “Together we can take it to the end of the line; your love is like a shadow on me all of the time”, nós nos lançamos no primeiro passo aéreo. “I don’t know what to do and I’m always in the dark.” Estou segurando Tiffany acima da minha cabeça e estou firme como uma rocha, executando a coreografia com perfeição. “We’re living in a powder keg and giving off sparks.” Começo a rodar Tiffany enquanto ela ergue as pernas e as abre num espacate, e Bonnie Tyler canta: “I really need you tonight. Forever’s gonna start tonight. Forever’s gonna start tonight.” Fazemos um giro de trezentos e sessenta graus e, quando Bonnie Tyler canta “Once upon a time I was falling in love, but now I’m only falling apart”, Tiffany escorrega para baixo nos meus braços e eu a coloco no chão, como se estivesse morta — e eu, como sol, lamento sua morte. “Nothing I can say, a total eclipse of the heart.”
Quando a música volta a subir, Tiffany dá um pulo e começa a voar lindamente pelo palco.
A música continua e volto a fazer círculos enormes e lentos com os braços, representando o sol da melhor maneira possível.
Conheço tão bem a coreografia que posso pensar em outras coisas enquanto danço, então começo a achar que estou mesmo realizando nosso número com muita facilidade e que é uma pena minha família e meus amigos não estarem aqui para me verem dançando de maneira tão sensacional. Por mais que a gente não receba o maior número de aplausos no fim — especialmente depois de Chelsea Chen ter trazido toda a família para assistir à apresentação —, começo a acreditar que vamos ganhar mesmo assim. Tiffany é muito boa, e, enquanto salta ao meu redor diversas vezes, começo a admirá-la de um jeito que eu não tinha admirado até então. Ela está dando tudo de si durante a apresentação e está mostrando um lado que eu ainda não tinha visto. Se, no último mês, ela estava chorando com o corpo enquanto ensaiávamos no estúdio, hoje à noite ela está aos prantos com o corpo, e a pessoa teria que ser feita de pedra para não sentir o que ela está oferecendo.
Bonnie Tyler começa a cantar “Together we can make it to the end of line”, o que significa que está na hora do segundo e mais difícil passo aéreo, então fico de cócoras e ponho as costas de minhas mãos sobre meus ombros. À medida que a música aumenta de intensidade, Tiffany sobe em minhas mãos e, quando Bonnie Tyler canta “I really need you tonight”, ela flexiona os joelhos, então aciono os músculos das minhas pernas e me levanto o mais rápido que posso, estendendo os braços e elevando as palmas das minhas mãos. Tiffany é projetada no ar, faz um giro completo, cai em meus braços, e, enquanto o refrão vai sumindo, olhamos um nos olhos do outro. “Once upon a time I was falling in love, but now I’m only falling apart. Nothing I can do, total eclipse of the heart.” Ela escorrega para fora dos meus braços, como se estivesse morta, e eu — sendo o sol — me apago, o que quer dizer que me deito no chão e uso apenas os braços para lentamente me afastar do brilho dos refletores, o que leva quase um minuto.
A música vai sumindo.
Silêncio.
Por um segundo, fico com medo de que ninguém bata palmas.
Mas então o lugar explode em aplausos.
Quando Tiffany se levanta, eu faço o mesmo. Como ensaiamos diversas vezes, seguro a mão dela e me curvo para a frente, momento em que os aplausos aumentam e o público fica de pé.



Um comentário:

  1. Lindo mesmo. Nada como a imaginação da gente para sentir a cena descrita. E a música ajuda a emocionar.

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